Sua família veio de Minas Gerais para São Paulo, onde Einstein e mais um irmão nasceram. Apesar de ter se alistado no exército aos 18 anos, somente dois anos depois se apresentou e ingressou no exército onde permaneceu por seis anos e participou de diversos eventos esportivos. Saiu do exército para trabalhar como segurança particular. Teve um comércio próprio por 15 anos e em 1999 voltou para a área de segurança na empresa POWER, prestadora de serviço para o IMES/USCS. Em 2006, foi designado a trabalhar na USCS. |
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Einstein Jesus Teixeira da Costa, idade não definida.
São Caetano do Sul, 12 de junho de 2018.
Entrevistador: Luciano Cruz
Equipe técnica: Indefinido
Transcritor: João Pedro Gianforti
Pergunta:
Einstein, para começar, eu queria que você me falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
Resposta:
Meu nome é Einstein Jesus Teixeira da Costa. Nasci em São Paulo, capital, no bairro de Guaianases.
Pergunta:
Em que ano?
Resposta:
1952.
Pergunta:
1952. Einstein o que você se lembra dessa sua primeira infância? Lá em Guaianases, tal, como que foi esse (...), como que você se recorda?
Resposta:
O que eu me recordo lá é que tinha bastante fruta, bastante chácara, né? Tinha rio para você pescar, todo mundo conhecia todo mundo, porque era (...), lá é o último bairro da capital. Então, lá não tinha nada de benfeitoria, não tinha rua asfaltada, não tinha nada, né? Fogão a lenha, todo mundo cozinhava em fogão a lenha, entendeu? E todo mundo era amigo de todo mundo, porque era só chácara lá.
Pergunta:
Sua família era de lá já?
Resposta:
Não, minha família veio para lá em 1943. Meu pai veio de Minas Gerais para lá, nós somos em nove irmãos, sete nasceram lá.
Pergunta:
Nove irmãos?
Resposta:
É.
Pergunta:
Quantos homens?
Resposta:
Seis homens e três mulheres.
Pergunta:
Contando com você?
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Nove ao todo. E como era morar nessa casa com nove, nove (...), oito irmãos?
Resposta:
Não (...), é foi muito legal, né cara? Porque a gente era bem unido, uma família, e somos até hoje, porque nós não temos mais pai, nem mãe. E nós estamos sempre reunidos, inclusive a gente está sempre postando no Face, a gente está sempre junto, os nove, Graças a Deus, vivos até hoje.
Pergunta:
Você, onde você esta aí nessa ______?
Resposta:
Eu sou o sexto, aí depois tem mais três abaixo de mim.
Pergunta:
E como era essa (...), como que eram as brincadeiras? Tinha um que era mais protetor? Um que era mais brincalhão?
Resposta:
Eu era a ovelha cinza da família, né? Porque o único que saía na rua pra jogar bolinha, pra jogar peão, era eu, jogar bola, era eu. Os outros eram mais caseiros, ficavam mais com a minha mãe em casa. Porque na criação do meu pai era assim, ele levantava de manhã para trabalhar, todo mundo tinha que levantar com ele, para tomar o café junto com ele, podia voltar para a cama depois, mas ele não saía de casa sem tomar café com a família. E isso daí, nossa criação foi essa, muito família mesmo e era muito legal. Tinha café, almoço, café da tarde e janta.
Pergunta:
Você falou de pesca, né? De coisas assim, bem [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Então, porque lá tinham muitos rios e era tudo limpo, porque não tinha fábrica, lá não tinha nada. Só tinham pessoas que veio de Minas Gerais, da Bahia, que ia para lá, e era poucas pessoas que moravam no local lá. Poucas famílias, tanto é que se foi escrito um livro de memórias lá do bairro, inclusive minha família está e tem eu no livro também, entendeu? Pela minha participação no esporte e tudo. Então, eu era a ovelha cinza por causa disso, porque eu saía para a rua, minha mãe não sabia que hora ia voltar, e quando chegava em casa era castigo.
Pergunta:
Ou seja, você era o mais traquina, pelo que eu estou entendendo.
Resposta:
Mais ou menos. Não, mas era bem legal, por causa da convivência, né? Porque eles não se destacavam nessa situação. Meus irmãos eram mais inteligentes do que eu, porque meu irmão é engenheiro, o outro é professor de educação física, minha irmã advogada, e eu (...), meu irmão jornalista e advogado também. E eu gostava de futebol, né cara? Jogar bola.
Pergunta:
Era bom? Bom de bola?
Resposta:
É, fui goleiro da seleção olímpica do exército. E jogo bola até hoje.
Pergunta:
No gol?
Resposta:
No gol. E hoje eu sou presidente da Amigos da Velha Guarda, do Botafogo de Guaianases. Nós temos um grupo, inclusive vai ter uma festa agora dia 23 de junho, o pessoal da bateria da universidade vai tocar lá para mim, vai ter uma festa muito grande lá.
Pergunta:
E como foi esse (...), esse início seu na escola, o que você lembra da escola?
Resposta:
Aqui?
Pergunta:
Não, da sua escola lá em Guaianases [concomitância de falas].
Resposta:
Isso, então, eu ia para a escola descalço, eu estudava em uma escola que (...), Escolas Agrupadas de Guaianases. Então era um casarão que quando você fazia alguma coisa a professora punha você de castigo no porão, ajoelhado no milho. E eu tentava comprar um sapato para ir para a escola, porque meus colegas tinham sapato ou tinham tênis, né? E eu comecei a engraxar, na porta de um armazém, só que meu pai chegava à noite, ele quebrava minha caixa de engraxate, que ele falava que engraxar sapato era serviço de vagabundo [5']. Mas ele não tinha condições de comprar um sapato para mim ainda, porque nós éramos em muitos irmãos, até que eu consegui comprar um Vulcabras 752, aí eu comecei a ir na escola de sapato.
Pergunta:
Você comprou com o seu dinheiro?
Resposta:
Com o meu dinheiro de engraxar. Aí depois meu pai, começou a melhorar a situação dele, aí ele começou (...). Comida nunca faltou, mas o sapato nem todos tinham na época.
Pergunta:
E como foi esse primeiro trabalho seu de engraxate? Depois como que você foi [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Aí eu fui trabalhar em uma fábrica de papel, Santa Teresinha, que ela existe até hoje, que inclusive ajudou para a minha aposentadoria, trabalhei lá um certo período. E depois meu pai montou vários estabelecimentos comerciais, aí eu trabalhava com ele, nos estabelecimentos dele, até entrar no exército.
Pergunta:
Que tipo de estabelecimento?
Resposta:
Restaurante. Tem restaurante.
Pergunta:
Você tem uma boa experiência em restaurante?
Resposta:
É, mais ou menos, eu cozinho mais ou menos.
Pergunta:
Ah, inclusive na cozinha.
Resposta:
Eu faço qualquer tipo de comida, inclusive nos churrascos eu sou obrigado a fazer cafta para todo mundo.
Pergunta:
Qual que é a especialidade sua?
Resposta:
Cafta de frango, cafta de lombo, cafta de carne normal. A gente faz tudo, faço uma lasanha também, faço qualquer comida.
Pergunta:
E como foi essa sua experiência no exército?
Resposta:
Então, eu entrei no exército praticamente, assim, como que obrigado, né? Porque na época quem alistava no exército a polícia não podia por a mão. Aí eu me alistava, mas eu não me apresentava, eu não comparecia lá na seleção, aí no outro ano eu me alistava de novo. O que aconteceu? No segundo ano eu cheguei lá, o cara carimbou no meu alistamento: ‘Insubmisso, refratário'. Aí quando o cara na seleção, no quartel, olhou para mim, assim: ‘Você quer servir ou quer ir para a cadeia? ', eu falei para ele: ‘Sou voluntário, estou aqui para servir o exército! ' [risos]. Aí eu fui servir o exército.
Pergunta:
Isso você tinha quantos anos?
Resposta:
Eu já ia fazer 19 (...), 20 anos já [se corrigindo]. Era para servir com 18.
Pergunta:
___________ com 18.
Resposta:
Não, entrei com 20 anos no exército.
Pergunta:
Foi com 18, mas aí como submisso refratário [concomitância de falas].
Resposta:
É, deixei de cumprir minhas obrigações. Servi o exército, aí como eu me destacava no esporte, eu fui para a Companhia de Atletas. Tanto é que no meu perfil do Face tem eu com a bandeira do exército lá, que eu era símbolo dos atletas.
Pergunta:
Você tem essa questão mesmo do esporte, desde sempre.
Resposta:
Desde pequeno, porque eu lutei até luta livre antes de ir para o exército. No _________ eu lutava mascarado, porque eu não podia lutar, que eu era menor de idade. Então, eu [interrupção do entrevistador].
Pergunta:
Fala mais sobre isso.
Resposta:
Então, aí eu fazia luta, eu era dos _______ do ringue. Fui para o exército, o pessoal vai vendo as habilidades, durante a educação física. Eu participei salto a distância, mas eu falava que eu não queria isso, que eu queria jogar bola, me levaram para o time de futebol. Aí em 1974 eu fui campeão olímpico pelo Segundo Exército, em Brasília. Jogamos na preliminar da seleção brasileira e tudo.
Pergunta:
Você ficou no exército até quando?
Resposta:
Seis anos eu fiquei no exército, eu saí para trabalhar na área de segurança privada.
Pergunta:
E o que você achou desse período?
Resposta:
Foi muito bom, eu aprendi muito. Eu acho que todo cidadão devia passar pelo exército, porque lá a doutrina é muito boa.
Pergunta:
Que tipo de ensinamento você acha que é uma coisa que você carrega até hoje, e que você aprendeu ali?
Resposta:
Respeitar, tipo assim, sem hierarquia não existe disciplina. Sempre tem que ter uma cabeça pensante, desde que ela seja coerente, e o respeito pelo colega. Você tem um número, vamos supor 200, e eu sou o 201, eu sou subordinado à você, independente de ser soldado e tudo mais. Se você passar eu tenho que me levantar em respeito à você, por ser mais antigo do que eu, então o respeito lá dentro é muito grande, né? Isso que é bom.
Pergunta:
E aí você saiu então para trabalhar na [interrupção do entrevistado e concomitância de falas].
Resposta:
Na segurança privada.
Pergunta:
Você já tinha [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Não.
Pergunta:
Pensado em trabalhar com segurança?
Resposta:
Por causa do salário, porque o militar, na época, ganhava muito pouco. Eu era cabo do exército, apto a terceiro sargento, trabalhei no Curso de Formação de Sargentos. O meu comandante não deixava eu fazer o curso de sargento, porque ele falava que não podia me perder. Eu tenho na minha folha de serviço tudo isso, que eu fui encarregado dos meios auxiliares do Curso de Formação de Sargentos e eu era cabo, e eu dava aula para um cara que ia ser sargento. Aí eu falei para ele: ‘Pô, mas coronel não existe ninguém insubstituível. O senhor não falou isso? ', ele falou: ‘Mas toda regra tem uma exceção' [10']. Então eu não podia sair daquela graduação. E a segurança privada, um vigilante da classe D, que antigamente era por classe, ganhava mais do que eu que era um cabo do exército. Então eu saí dali, fiz um curso, passei em um concurso da SESP. Fui trabalhar na SESP como vigilante D, saí de lá como inspetor de segurança.
Pergunta:
A gente está falando em que ano?
Resposta:
Em 1978 eu saí do exército, entrei lá em 1978 e fiquei até 1984.
Pergunta:
E como era o trabalho?
Resposta:
Então, eu trabalhava ali na Avenida Paulista, no 103, onde pegou fogo, um incendiou, para mim, meio criminoso, queimou os dois prédios lá, eu trabalhei ali. Tinham seis prédios da SESP ali, a Companhia Energética de São Paulo, fiquei durante seis anos, era bom. Tinha 40 mil funcionários a SESP na época, hoje acho que não tem 200, porque fragmentou tudo, foi vendendo tudo, né? Hoje nem (...), praticamente existe um escritoriozinho deles lá no Guarapiranga, não existe nem mais a SESP.
Pergunta:
E como foi (...), como que isso foi evoluindo? Você ficou lá então, quatros anos?
Resposta:
Seis anos.
Pergunta:
Seis anos, né?
Resposta:
Aí saí e montei um comércio para mim. Fiquei durante 15 anos com bar, essas coisas, vendendo.
Pergunta:
Em São Paulo?
Resposta:
Em São Paulo. Mas aqui, o que acontece? Se você é honesto, paga as coisas direitinho e tal, você não tem lucro, porque o imposto é muito (...), né? E os caras levam muito dinheiro, quer tomar dinheiro, então eu acabei fechando e voltei para a área da segurança de novo em 1999. Entrei nessa empresa e estou até hoje, quase 20 anos.
Pergunta:
Na Power?
Resposta:
Na Power.
Pergunta:
E como você entrou lá?
Resposta:
Então, eu entrei lá, eu fui lá umas 50 vezes. Aí a moça da seleção falou assim para mim: ‘Moço, por que o senhor quer trabalhar tanto aqui? ', eu falei para ela: ‘Não, não é que eu quero trabalhar, eu preciso trabalhar'. Era a dona Rosa, ela era do setor de seleção, hoje ela é gerente da área de ouvidoria da empresa, né? E eu entrei lá eu tinha o quarto ano primário, em 1998 (...), 1999 [se corrigindo].
Pergunta:
Já tinha toda essa experiência do exército.
Resposta:
De vida, tudo. Mas eu tinha só o quarto ano, porque eu nunca quis estudar, aí falei: ‘Não, vou voltar a estudar! Eu preciso estudar'. Aí eu trabalhava à noite, na estação de trem, e estudava de dia. Terminei o ginásio todinho,que eu tinha só o quarto ano primário, terminei tudo. Fiz o colegial, terminei o colegial, comecei a fazer uns cursos na área de gestão de segurança e, Graças a Deus, consegui chegar onde eu estou, aqui.
Pergunta:
Einstein, essa área da segurança, obviamente que toda profissão tem um risco, você sair de casa já é arriscado, mas o segurança ele, obviamente está sujeito ali a [interrupção do entrevistado].
Resposta:
A várias situações.
Pergunta:
A várias situações. Eu queria que você me falasse, assim, como que você encara isso? Esse risco inerente à sua profissão. E o que você acha que mudou nessa área da segurança, quando você começou lá no primeiro trabalho na segurança privada, em 1978, até hoje.
Resposta:
Na realidade, mudar não mudou nada, muda o local de trabalho e cada local tem um procedimento. A segurança não muda, a dinâmica do trabalho, entendeu? Tipo, aqui na faculdade eu tenho que fazer uma segurança de uma forma diferente do que eu fazia na estação de trem, do que você faz em um banco. Aqui você vai mais no diálogo com as pessoas e tal, pra _______ aquele clima. Porque aqui é muito legal, ainda porque teve (...), às vezes tem um aluno fazendo alguma coisa que não é legal, vai o outro aluno falar para mim: ‘Seu Einstein, pá, ta fazendo isso e isso ali', para evitar um mal maior. Você vai na CPTM não, você encontra todo tipo de pessoa, de ladrão, de prostituta, de tudo que você tem para imaginar. Os caras roubam na plataforma ali, tem três, quatro, empurrando os caras para entrar no trem, mas na realidade está um enfiando a mão no bolso dele, para roubar ele, então você tem que ter a percepção para evitar tudo isso daí.
Pergunta:
O mundo está ficando mais violento? Ou essa é uma sensação?
Resposta:
O mundo está violento.
Pergunta:
É mais violento do que quando você começou a trabalhar?
Resposta:
Muito mais, por quê? Porque o nosso estado deixou a criminalidade assumir, tipo assim, as áreas mais necessitadas, a minha maneira de ver. Porque como eu moro em uma periferia, é mais evidente aquilo lá, você vê mais com mais clareza. Como é que eu posso dizer? Assim, as quadrilhas, os caras que é mais inteligente no crime, ele vai em uma família mais necessitada, o que eles fazem é isso daí, tem cinco, seis filhos, ele fala pra família: ‘Dois filhos, nós vamos dar tudo para vocês, tal, estudar seus filhos, mais dois vai pertencer a nós' [15']. E esses caras hoje estão como deputado, estão em cargos da polícia, do exército, então, hoje a ramificação do bandidinho está em todo lugar, porque o crime formou eles para isso, para servir a eles, porque o estado abandou eles. Esse que é o grande problema, para mim, na minha visão.
Pergunta:
Einstein, qual foi a primeira vez que você ouviu falar na USCS?
Resposta:
Primeira vez que eu ouvi falar na USCS? Honestamente, foi o seguinte, eu estava no meu trabalho lá, o meu coordenador falou assim: ‘Eu preciso de você em um lugar aí, que eu estou com um problema lá'; ‘Onde é? '; ‘São Caetano, é uma universidade e você vai acabar se aposentando lá, porque você [quebra de raciocínio]'; ‘Tá bom, vou lá! '. Porque eu não sei quanto tempo você tem aqui, mas quando eu cheguei aqui as pessoas entravam a pé pelo portão de veículos, onde passava carro passava pessoas. Os próprios vigilantes daqui jogavam bola na quadra, em horário de trabalho, e muitas outras coisas aconteciam aqui. Então, eu cheguei aqui com uma doutrina de segurança e o pessoal não estava acostumado, aquele portal social da quatro ali era fechado, essa portaria aqui, a Joana Angélica, tinha as catracas aqui. Aí eu fui conhecendo como é que funcionava, aí eu comecei a pôr umas determinações, ó: ‘Não pode fazer isso, não poder fazer aquilo'. E aqui tinha um gestor, que acho que ele acabou não gostando muito do meu trabalho, porque ele queria sair por um portão que não podia aqui, quando a portaria fechava, e não estava certo, né? Aí eu tirei o vigilante do lugar, ele saiu, quando ele voltou, eu não abri para ele entrar, também não deixei ele me ver. Quando ele foi entrar pela portaria da Goiás, eu já estava lá, aí ele questionou, por que eu tinha tirado ele de lá de lá. Eu falei: ‘Olha, o senhor não manda no vigilante, o responsável pelo vigilante sou eu. E o lugar do senhor entrar e sair é por aqui, igual a todo mundo'. Aí ele pediu para me tirar daqui, eu fui para o campus dois, cheguei lá, fiquei lá um mês e pouco, umas pessoas falou: ‘Você tirou o cara de lá, mas ele está aqui'. Foi lá, me viu, mandou tirar eu de lá também, voltei para a minha empresa. Aí meu (...), já era gerente, meu coordenador falou assim [interrupção do entrevistador].
Pergunta:
Você teve duas fases aqui?
Resposta:
Não, vai vendo.
Pergunta:
Você ficou quanto tempo aqui, nessa primeira fase?
Resposta:
Nem três meses, primeira fase. Só que eu fiz coisas aqui, que alguém que manda aqui percebeu, porque era muita gente reclamando as coisas que eu estava fazendo, mas eu fazia, mas falava para a pessoa: ‘Olha, eu tenho que fazer isso por causa disso e disso'. Um dia um cara é atropelado, entrando e saindo por onde saí veículo aqui, não pode, onde saí veículo não pode circular pedestre, tem que ter um portão social aqui e tal. Isso incomodou muita gente que estava acostumada, porque aqui fazia fila de funcionários para sair almoçar no Colarinho, aqui do lado, e eles achavam que tinham que sair por aqui. E aqui não é saída de funcionário, ali era saída (...), aquele portão era para entrada de veículos, eu comecei a não permitir certas coisas aqui. Fui para a empresa, fiquei lá, ele falou assim: ‘Bom, o que aconteceu lá? '; falei: ‘Não sei'; ele falou: ‘Bom, vamos pôr você trabalhar'. Passados seis dias a universidade mandou um comunicado para a minha empresa, para trazer eu de volta para cá. Aí o meu gerente falou assim para mim: ‘Ó, você tem que voltar para lá! '; eu falei: ‘Mas eu vou voltar para lá? Os caras não quer eu lá'; aí ele falou: ‘Não, está aqui um documento da reitoria da universidade, querendo saber com ordens de quem tiraram o senhor de lá, para o senhor voltar para lá'; eu falei: ‘Agora eu vou lá, vou saber porque eu saí, aí eu posso falar para o senhor'. Aí eu cheguei aqui, reunião na mesa, estava o Bassi, o Marco Antônio era o diretor, né? E era o (...), que tinha a reitoria. Me reuniu lá, o professor Bassi, eu agradeci a confiança, que ele era vice-diretor na época, ele falou: ‘Não, você não tem que agradecer nada, você está voltando por causa do trabalho que você estava fazendo aqui e por causa da injustiça que estavam cometendo com você. E você continua fazendo do mesmo jeito que você estava fazendo, a partir de hoje aquele gestor não é mais gestor, a partir de hoje o gestor é o professor Santander. E pra você falar comigo, não precisa pedir ordem para ninguém, você fala direto comigo, mas faz o que você vinha fazendo'. Me deu mais liberdade para executar o trabalho, né? Que nós tínhamos esse portão aqui, que é um calcanhar da universidade, que o aluno muito inteligente saía aqui, sentava no bar, qualquer um pedia a carteirinha dele emprestada, ele emprestava, o cara entrava para vir fazer coisas aqui dentro que não devia fazer. Aí eu fiz um trabalho de investigação, coloquei na mesa do professor Minciotti, que ele já era o reitor, no outro dia ele mandou arrancar as catracas e fechar esse portão [20'].
Pergunta:
E Einstein, além das questões ligadas à segurança, aquele primeiro dia que você chegou aqui, que o seu (...), falou: ‘Ih, tem uma faculdade lá em São Caetano, vai lá ver! '. Quando você entrou aqui, o que você achou da universidade?
Resposta:
Era um mundo [interrupção do entrevistador].
Pergunta:
Qual foi a sua primeira impressão?
Resposta:
Então, para mim era um mundo diferente, né cara? Eu nunca tinha trabalhado assim, preso, na área da segurança. Eu sempre trabalhei livre, igual na CPTM eu trabalhava em todas as estações, eu era responsável por todas as estações, desde aqui Paranapiacaba até Jundiaí. Então tinha vez que eu estava aqui, tinha vez que eu estava em Jundiaí, tinha vez que eu estava na luz. Então, eu não tinha uma parada, assim, acontecia um problema eu tinha que estar naquele lugar para resolver. E aqui eu tinha que ficar aqui dentro, para mim era muito difícil isso daí, porque eu me sentia preso. Eu andava muito aqui, aí o pessoal falava: ‘Pô, você tem rodinha no pé, eu te vejo em todo lugar', mas não é, por causa daquela (...), eu tinha que movimentar para poder ir me adaptando aqui, né? E aos poucos eu fui me acostumando e aqui é muito bom, as pessoas daqui é muito boa, principalmente os alunos, aqui eu tenho 3,5 mil seguidores no Facebook, 3 mil é aluno.
Pergunta:
O que é a coisa que você acha mais bacana na sua profissão? E o que é o maior problema?
Resposta:
O maior problema? Primeiro uma legal. O maior problema é o seguinte, o vigilante, o homem de segurança, a primeira palavra dele é: ‘Não'. Para nós da segurança não é difícil falar ‘não', o difícil é a pessoa que recebe o ‘não', ele não aceita muito. Mas o ‘não', é um ‘não' porque o cara quer sair por ali, não pode sair por ali, então não pode. Mas se o cara tiver uma necessidade, tal, você acaba (...), até deixa ele sair. Tem aluno que ele quer entrar pela portaria aqui de cima, igual hoje um pulou a catraca porque ele estava com pressa para entrar na faculdade, ele não quis pôr a digital, ele pulou a catraca. Então existe esse tipo de situação, o ‘não' porque ele sabia que se ele pedisse para o guarda, o guarda ia falar: ‘Não, aqui não, não pode pular', mas ele pulou e já desceu correndo, ele faz Publicidade e Propaganda [risos]. Aqui na faculdade os cursos é muito legal, o quê? Cada curso tem a sua especialidade, a maneira de se comportar, de andar, de conversar, de se reunir, até de sentar, entendeu? Você vai se acostumando com isso, para mim foi muito legal, porque para mim é um mundo novo. Meus filhos também fizeram faculdade, minha filha está no quarto ano de Engenharia, a outra terminou a Enfermagem, meu filho tem Comércio Exterior, mas nenhum deles estudou aqui e as pessoas me perguntam: ‘Por que eles não estudaram aqui?', porque não seria legal, né? Porque eles iam se sentir vigiados pelo pai.
Pergunta:
Quantos filhos Einstein?
Resposta:
Três. Um rapaz de 36 anos, uma 34 e uma de 25.
Pergunta:
Quando que você começou trabalhar aqui?
Resposta:
2006.
Pergunta:
Qual que é a principal diferença que você vê naquela USCS que você encontrou em 2006, e aí eu estou falando de uma forma geral mesmo, não apenas pontualmente ligada à questão da segurança, e essa agora que completa 50 anos?
Resposta:
Eu acho que, não desmerecendo as outras administrações, mas eu acho que o professor Bassi deu uma mudada na faculdade, né? No sentido de administrar, porque eu, eu (...), minha visão de fora, aqui tinha muito diretor nos cursos, muitos gestores nos cursos, e ele acabou com muito disso daí, então para algumas pessoas que tinham os cargos não foi legal, mas para a universidade foi muito bom, porque a despesa dela caiu lá embaixo, né? E pode-se investir em outras coisas. Aí ele criou o curso de Medicina, agora ta criando os cursos daí, foi uma coisa que quando eu cheguei aqui a faculdade tinha 2,8 mil alunos, então (...), e cada vez ia ter menos, agora o crescente foi crescendo de ano a ano. Começou já com o próprio Minciotti, crescendo, aí foi crescendo, e aqui agora não tem mais espaço, aqui está crescendo até para fora daqui.
Pergunta:
O que a USCS representa na sua vida?
Resposta:
O que representa na minha vida? Olha, eu vou falar uma coisa para você, aqui eu conheci pessoas que eu nunca imaginava que eu ia conviver com elas, nunca [25']. Estou tendo a oportunidade de conviver com alunos de universidade, com funcionários, com (...), com os reitores. E eu, Graças a Deus, a minha convivência é boa e para mim todo lugar que eu estou é como se estivesse conversando com o aluno ou com o reitor, é a mesma coisa para mim. Eu me sinto bem aqui, por isso que acontece essa situação de eu estar em qualquer ambiente para mim é normal.
Pergunta:
Você falou dessa sua participação esportiva, né?
Resposta:
Sim.
Pergunta:
De todos os esportes, de tudo que você trilhou aí, você falou que tem uma predileção pelo futebol.
Resposta:
Certo.
Pergunta:
Quais são aquelas memórias mais marcantes para você?
Resposta:
Puxa vida, marcante cara? [Entrevistado pensativo]. É que eu joguei em um clube do Botafogo de Guaianases, lá eu joguei mais de 20 anos e eu fui várias vezes campeão, mas eu fui campeão também jogando pelo Camisa Verde e Branca, eles me convidaram para disputar um campeonato das escolas de samba em 1978, primeiro campeonato das escolas de samba de futebol. E o Camisa Verde foi o campeão, na final contra o Mocidade o jogo foi 1 a 1, foi para os pênaltis e eu peguei três pênaltis, isso foi muito legal porque estava toda a escola de samba no Aclimação, no campo do Aclimação.
Pergunta:
Consagração.
Resposta:
É, também no Botafogo nós fomos campeão e eu peguei pênalti também. Como o pessoal fala: ‘Quem viu o Nego jogar (...)', porque na várzea é o Nego, não é o Einstein, lá onde eu moro ninguém conhece o Einstein só conhece o Nego, porque era um apelido que a minha mãe colocou em mim, porque ela não conseguia falar o meu nome. Meu pai pôs o nome, que meus irmãos (...), nós somos tudo nomes da história, Edison José, porque é o Thomas Edison da lâmpada; Stephenson George, inventor da locomotiva; Einstein Jesus; Jeferson Deodoro; Emerson Lincoln; Hércules Marcos. Tudo nome histórico e meu pai nunca estudou, meu pai tinha o terceiro ano primário, mas ele era autodidata. Minha mãe é nome de escola, porque ela dividiu a nossa casa na metade era escola e metade era a nossa casa, porque o governo não dava sala de aula nas periferias, ele dava o professor só, então minha mãe dividiu nossa casa, metade era escola. Então depois, lá para os anos 1990, quando viram isso daí, construíram uma escola lá e fizeram o nome dela. Meu pai é nome de hospital em Guaianases, hospital geral de Guaianases chama Jesus Teixeira da Costa, tem uma praça com o nome dele, Jesus Teixeira da Costa.
Pergunta:
Sua família tem uma participação bem importante e você mantém essa (...), essa participação social ali no seu bairro, né?
Resposta:
Sim.
Pergunta:
Fala um pouquinho sobre isso.
Resposta:
Então, o que acontece? Nós temos uma sociedade que ela foi fundada em 1952, no ano do meu nascimento, meu pai fundou essa sociedade acho que dois meses antes de eu nascer, que foi acho que 13 de setembro, parece. Ele tinha casas, ele vendeu as casas para pagar aluguel de sociedade, para pagar o ônibus, trazer as pessoas para conhecer zoológico, Ibirapuera, porque lá ninguém conhecia, né? Então ele alugava ônibus, financiava essas viagens para as pessoas, do bolso dele, dava lanche, tudo. E agora mais no final dele, quando ele conseguiu o hospital, o que ele fez? O amigo dele era dono do terreno, colocava faixa de loteamento, ele ia lá e arranca as faixas, aí os caras iam lá na casa dele: ‘Pô, Seu Teixeira, mas o meu terreno (...)'; ‘Não, você não vai vender, o governo vai desapropriar e vai fazer o hospital aqui! '; ‘Mas o terreno é meu'; ‘Não, você não vai vender'. Meu pai começou falar para as pessoas que ele não era dono do terreno, para ninguém comprar ali que depois [risos e interrupção do pensamento]. E ele, de tanto ir lá reclamar, conseguiu que o governo desapropriasse e construísse o hospital lá, por isso que o hospital leva o nome dele. E hoje, ele como vendedor, passou a vender terrenos e tal, ele ganhou um terreno da líder, de mil metros quadrados, esquina para três ruas em uma praça, bem (...), e ele pagava aluguel, ele pegou esse terreno e doou para a sociedade, cara. Você acredita? Aí eu falei para ele assim: ‘Pai, o senhor paga aluguel pai, o senhor vai dar o terreno para a sociedade? O senhor vai continuar pagando aluguel? '; ele falou assim: ‘Tá faltando alguma coisa na mesa para vocês comer? ', então a gente não podia falar mais nada, certo? E hoje é onde a gente faz (...), o pessoal da faculdade já foi lá umas duas ou três vezes, doar presente de fim de ano para as crianças, a gente faz sempre as coisas lá, sempre essa (...), festa para as crianças, natal, festa junina, recebe pessoas de igreja, sempre a gente está abrindo as portas para as pessoas lá [30']. É nesse local, meu irmão construiu um puta de um salão lindo lá, tudo do bolso, sem ninguém ajudar, e nós temos lá, que meu pai deixou pra lá, essa é a herança do meu pai.
Pergunta:
Qual que é o nome da sua mãe que você falou?
Resposta:
Aracis de Abraão Teixeira
Equipe Técnica:
Só interromper, só um minutinho, o relógio está dando um pouco de barulho no microfone, não sei se tem como prender.
Pergunta:
Acho que (...), quer tirar o relógio?
Equipe Técnica:
Não sei.
Pergunta:
Talvez seja melhor, só que a gente já está acabando também.
Equipe Técnica:
Ah é? Então (...).
Pergunta:
Você pode tirar o relógio Einstein?
Resposta:
Pode [entrevistado tira o relógio e o entrega à equipe técnica].
Pergunta:
Só para não (...), porque como ele mexe, ele acaba fazendo o barulho [concomitância de falas]. Mas é uma exceção bem ________, como era pra você estar em uma família tão altruísta, assim, quer dizer, como você falou, quer dizer, dividir a casa com a escola, é (...). Como que você ainda, ali, via isso?
Resposta:
Então, eu não entendia, por quê? A gente era pequeno, cheio de gente na sala lá e a gente não podia ir na sala, porque era os alunos, né? E a gente às vezes não (...), tipo eu não estava na idade de estudar ainda. Aí a prefeitura alugou um casarão depois, quando eu comecei a estudar já estava nesse casarão, que era as Escolas Agrupadas de Guaianases, e hoje é uma loja Marabraz lá no local, nem existe mais essa escola, mudou o nome para 25 de Janeiro, onde é a biblioteca hoje em dia, que tem uma escola de primeiro e segundo (...), primeiro grau [se corrigindo], que fica dentro da biblioteca agora. Meu pai, ele fazia passeata dos alunos, punha as crianças tudo para andar na rua com faixinha: ‘Queremos mais escolas! Queremos estudar! ', porque não tinha escola lá. E eu, acho que nós da família, seguimos esse ritmo dele, né cara? Igual, como eu joguei muita bola e eu parei de jogar bola, eu estava vendo meus camaradas queriam se reunir, não tinham onde se reunir, aí em uma conversa assim, a gente em três, quatro amigos, criamos Os Amigos da Velha Guarda, e os caras me colocaram como presidente. Aí o que aconteceu? Teve a primeira reunião, 60 pessoas na reunião, já está aquele grupo de amigos falando, me chamando de presidente, não sei o quê, mas até então eu só de boa. Aí eu (...), ‘O Presidente, abre aí a reunião com a palavra', eu levantei e falei para eles assim: ‘Ó, primeiro eu não sou o presidente, porque não teve uma eleição, não é verdade? Já tem cara querendo derrubar o presidente e eu nem sou o presidente ainda, precisa ter uma eleição para ter um presidente'. O Julião levantou: ‘Então vamos fazer a eleição aqui, por aclamação. Meu candidato é o Nego', aí todo mundo levantou a mão. Eu falei: ‘Não, mas vocês não são meus amigos' [sorriso e tom irônico presente]. Começamos criar a diretoria e dia 23 nós vamos fazer nossa festa, lá no nosso campo, para, praticamente, dar uma alavancada no grupo. Tem pessoas que estavam já até com depressão, porque não tinha onde se reunir, tal. É muito legal o grupo de amigos fazendo aquelas resenhas, pessoas agradecendo: ‘Pô, obrigado pelo o que você fez pelo meu irmão', pelo não sei o quê, ‘Pô, o meu irmão está tão feliz'. Então é um negócio legal, a felicidade dos outros me deixa feliz, por isso que é legal.
Pergunta:
E você vai no gol agora? Vai jogar no gol?
Resposta:
Então cara, infelizmente eu não vou poder jogar no gol, porque eu tenho que cuidar deles. Eu mandei fazer um uniforme muito lindo para eles, mas todos eles que pagaram, porque na minha época, que a gente jogava bola, quem comprava o fardamento era os próprios jogadores, porque não tinha esse negócio de publicidade, financiamento político. E no nosso estatuto não aceita política e nem publicidade na camisa, igual era no Barcelona.
Pergunta:
Muito bem.
Resposta:
Então a nossa camisa vai só (...), e o detalhe é tudo os nossos números, distintivos, é tudo dourado, porque nós somos dos anos dourados do Botafogo, que na época que nós jogamos eles ganhavam tudo. Então os caras têm que respeitar [sorriso].
Pergunta:
Muito bem. O Einstein, voltando para a USCS, se você estivesse naquele momento lá que o seu gestor falou: ‘Olha, tem uma faculdade lá em São Caetano', e você tivesse que explicar para alguém hoje o que é essa faculdade em São Caetano, o que é a USCS, como que você definiria ela?
Resposta:
Bom, eu vou definir pelo o que uma pessoa que estudou aqui falou para mim, falou: ‘Ó, eu só estudei aqui porque eu encontrei o senhor' [35']. Ele entrou aqui, ele tinha feito inscrição no vestibular em outra universidade, aqui em São Bernardo, e veio aqui para conhecer. Não tinha ninguém para mostrar a faculdade para ele, aí eu saí mostrando a faculdade para ele, conversando com ele, na saída da catraca ele falou bem assim: ‘O senhor me convenceu, eu vou estudar aqui! '. E depois que ele se formou ele veio aqui agradecer, ele já veio aqui agradecer por ter conversado comigo e estudado aqui, não é verdade? Porque aqui, eu falo para uma pessoa que vem fazer vestibular: ‘Ó, não vai pensar que aqui é fácil não. Não é porque você paga não que você vai passar de ano, aqui tem que estudar'. Aí a mãe que está do lado já fala assim: ‘Então é assim que eu quero! ', entendeu? Porque se for fácil não é legal. Então se passa essa impressão para as pessoas que aqui as coisas são sérias, e isso que é legal, e na realidade é sério mesmo, porque eu vejo (...), a gente tem situações (...), aí o professor tira a prova, dá zero, porque está colando. A exigência aqui é muito grande, só não aprende quem não quer aqui, eu falo, condições a universidade dá, depende do aluno, porque quem faz a universidade é o aluno, ele que faz ela ser boa ou não ser boa.
Pergunta:
Einstein tem alguma outra coisa que você gostaria de destacar? Lembrando que a ideia aqui do projeto é (...), seja (...), por exemplo, nesses dez anos [interrupção do entrevistado].
Resposta:
12 anos.
Pergunta:
12 anos. Você deve ter passado por várias situações aí, situações mais engraçadas, mais pitorescas. Tem alguma situação dessas que te vem na cabeça agora? Que você acha legal deixar registrado.
Resposta:
Aqui na faculdade?
Pergunta:
Aqui na faculdade. Você deve ter visto de tudo, né?
Resposta:
Não, eu gostaria que tivesse a gincana da faculdade novamente.
Pergunta:
Fala um pouquinho como que era gincana.
Resposta:
Então, porque vinham grupos de alunos, que era formado pelos alunos, na realidade eles disputavam para quem (...), a equipe que ganhava, ganhava bolsa e tal. Mas você via que não tinha nada haver com isso daí, a alegria das pessoas disputando, arrecadar alimento, arrecadar não sei o que, quem arrecadasse mais tinha mais pontos, né? Na realidade eles estavam fazendo alguma coisa social. E a gente vinha no domingo aqui, eu não ganhava nada para vim aqui, eu falava: ‘Não Paulinho, pode contar comigo! ', vinha Paulinho, vinha não sei o que, todo mundo vinha na disposição de (...), mais era angariar as coisas, né? Do que propriamente (...), e uma disputa, sei lá, nego que fazia aquelas de teatro, montar, era muito lindo cara! A faculdade fez o quê? Três anos de gincana e aí depois não fez mais, eu fiquei muito triste.
Pergunta:
Você gosta?
Resposta:
Adoro cara! A participação de todo mundo, os caras faziam aquele negócio, punha um, assim, aqui, outro ali, a turma saía procurando, caça ao tesouro. E em um domingo aqui, só a gente aqui dentro, tinha 150 alunos aqui dentro e mais o pessoal da equipe que tomava conta, tinha que abrir sala, deixar tudo arrumado para os caras guardar mantimento, teve uma equipe que deu oito mil quilos de alimento em um ano, conseguiu doação e tudo. Veio até o Hospital Santa Marcelina até buscar as doação aqui, isso que é um negócio legal.
Pergunta:
Você sempre morou em Guaianases? No mesmo [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Nasci e moro lá, não na mesma casa, né? Nasci e moro em Guaianases até hoje, Graças a Deus.
Pergunta:
Perfeito, Einstein é isso, só posso te agradecer aí bastante pela (...), pela participação.
Equipe Técnica:
Posso pedir para ele (...), perguntar uma coisa?
Pergunta:
Claro, claro, fica a vontade.
Equipe Técnica:
Queria que o senhor falasse um pouquinho sobre a sua relação com os seus filhos.
Resposta:
Puxa vida! Então, para falar dos meus filhos eu tenho que falar do meu casamento, né? Não tem como dos filhos sem falar do casamento. Eu fui casado durante 29 anos e seis meses, no dia que comprou (...), completou [se corrigindo], eu me separei litigiosamente, foi um negócio muito louco. Eu estava sem advogado, minha ex-mulher com advogado, aí o juiz falou: ‘Precisa de um advogado para o senhor'; ‘Não, eu não preciso de um advogado'; ‘Não, eu tenho que considerar (...)'; ‘Eu não quero advogado, ninguém pode falar por mim aqui'. Eu estou contando isso daí para vocês entenderem qual a relação minha com os meus filhos, tá? Aí ele falou: ‘Não, o senhor tem direito'; ‘Não quero', eu falei: ‘Ninguém pode falar por mim aqui'; falou: ‘Tudo bem', aí ele falou assim: ‘Então tá bom! Não quer, tudo bem, então vamos aos bens então'. Aí eu falei para ele: ‘O senhor pode pular essa parte, eu não quero nada, eu vim aqui atrás de paz, o que eu preciso na minha vida é paz'. Aí tudo bem, falou: ‘Você tem que pagar pensão, você tem uma filha menor ainda'; eu: ‘Sem problemas, só o senhor determinar quanto que é (...)', então determinou tudo [40']. Aí os filhos foram tudo com a mãe, e eu fui morar em uma casinha pequenininha, sozinho. Beleza, e eu já estava aqui na USCS, que foi em 2009, e eu vinha trabalhar triste para caramba. Passou uns dois anos meu filho me ligou: ‘Pai, o senhor tem de cuidar das suas filhas, com a mãe não dá para ficar' [entrevistado visivelmente emocionado]. Eu falei: ‘O pai não pode agora, o pai mora em uma casa pequena, mas se der um tempo o pai arruma'. Aí eu falei: ‘Caramba, como é que eu faço? '. Precisa ver se elas querem morar comigo, eu falei para ele. ‘Não, ______ está do meu lado fala com ela' [fala do filho do entrevistado]. Eu conversei com ela, ela falou: ‘Não pai, vou sim! '; aí ligou para a outra: ‘Não, vou sim pai! Tá bom'. Pô, eu não tinha nada, né cara? Porque eu fiquei sozinho, fiquei meio triste, aí não dá valor mais a nada, as coisas, tudo que ganhava gastava. Aí eu fui na minha irmã: ‘Precisa arrumar uma casa grande'; ‘O Vagner falou isso e isso (...)'; falou: ‘Não nego, vamos aí'. Viu a placa de um sobrado, dentro de um condomínio, vamos lá, dentro (...), lá em Guaianases mesmo, aí fui, conversei com o rapaz, ele falou assim: ‘Não, você precisa de um fiador'; eu falei: ‘Não, não vou arrumar um fiador'. Fui na porto, arrumei uma carta fiança. Aluguei o sobrado para poder ter onde colocar os móveis, falei para eles: ‘Ó, vocês não vão pegar nada daí, vocês vão vim com a roupa do corpo'. E vim aqui no Magazine Luiza, primeiro eu fui na Casas Bahia fazer compra, cheguei lá o cara não aprovou meu crédito, e eu (...), meu nome era limpo, tal, fiquei triste para caramba, depois (...). Aí saí dali triste, entrei no Magazine Luiza, aí o cara (...), comecei a comprar tudo, televisão, geladeira, máquina de lavar, comprei tudo que cabe em uma casa, cama box para as meninas, uma para cada uma, um guarda roupa grande para cada uma, porque o sobrado é grande, um guarda roupa para mim. Meus móveis da outra casa eu nem levei. Na hora de comprar o sofá, cara, meu limite já tinha ultrapassado, eu ia ter a minha casa, eu ia pôr as cadeiras na sala para assistir televisão. A moça: ‘Não dá'; eu falei: ‘Tá bom'. Aí eu cheguei aqui, conversando com a Silvana, que é a moça que eu te falei, expliquei o que aconteceu, ela falou assim: ‘Pô, mas como é que era esse sofá? '; eu falei para ela: ‘Um sofá preto, lindo Silvana, a minha cara aquele sofá'; ela falou: ‘Tá bom'. Quando eu cheguei no outro dia para trabalhar, falou assim: ‘Ó, o sofá vai chegar junto com os seus móveis'. Ela comprou o sofá, ‘Você me paga quando você puder' [fala da Silvana]. Então, meus filhos estão comigo até hoje cara, acho que é sinal que a relação é boa, né? Só que as minhas filhas brigavam muito, porque a mãe incentivava a briga das duas. Quando elas vieram morar comigo, elas fizeram um guarda roupa aqui e outro aqui, um de frente para cá e outro de frente para cá, no quarto, dividiram o quarto assim [sinalizando as posições], uma cama do outro lado, outra cama aqui. E era discussão toda noite, porque o clima de discórdiazinha lá atrás, né? E eu tinha falado para elas: ‘Agora vocês tem uma família'. Aí descia as duas: ‘Pai, você só dá razão (...)'. Eu não dava razão para ninguém, eu falava para elas: ‘Vocês, um dia, vão perceber que vocês estão perdendo tempo na vida, discussão não leva a nada'. E foi indo, conversando com elas, todo dia conversava eu com elas, um dia chamei o meu filho, meu filho comprou um apartamento, foi morar no apartamento dele, chamei, pus os três na sala e comecei a conversar, explicar para eles tudo, beleza. Passou uns dez dias a minha irmã foi na minha casa, aí ela subiu no quarto das meninas, ela não acreditou, um guarda roupa em cada lado da parede, assim [sinalizando as posições], e as duas camas uma encostada na outra e uma dormindo do lado da outra, entendeu? Então isso aí é o relacionamento que eu tenho com os meus filhos.
Pergunta:
Hoje moram todos com você? Menos [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Se não fosse bom eles não iam querer morar com o pai, porque eles falavam: ‘Pai, faz a comida do senhor, a mãe não sabe cozinhar. Pai, faz o café o senhor, o café do senhor é mais gostoso'. Porque você tem que fazer as coisas, tem que fazer por amor, porque você está fazendo aqui ali por prazer, fazer por fazer não adianta. Igual, eu chego em casa agora, às vezes a minha filha foi trabalhar, não chegou do trabalho ainda, q ue ela trabalha no Lucas Nogueira Garcez, ela trabalha na área de transfusão de sangue, a outra não chegou da universidade ainda, que ela saí da Oswaldo Cruz. Às vezes eu chego quase meia noite e acabo chegando primeiro que elas ainda, aí se tem uma louça lá eu já lavo, quando elas chegam, aí elas: ‘Pô pai, não precisava ter se incomodado não', porque isso é uma família [45']. Então, acho que isso que eu passo para elas, e acho que isso que une a gente. A minha filha fez 34 anos agora no domingo, eu vim trabalhar aqui no vestibular de medicina, ela foi trabalhar em São Bernardo, quando nós chegamos em casa à noite tinha uma festa para ela lá, minhas irmãs preparou, meu filho preparou, a outra irmã preparou. Chegou lá tinha bolo, tinha tudo lá, quando ela chegou em casa tomou um susto e eu também, né? Eles fizeram tudo escondido, essa é minha família.
Pergunta:
Que história bonita Einstein, parabéns!
Resposta:
Ãhn? [Entrevistado não escutou].
Pergunta:
Parabéns, parabéns por tudo. Alguém mais tem alguma pergunta? [Silêncio na sala]. Então, te agradecer mais uma vez, o sofá tá lá ainda?
Resposta:
Tá lá.
Pergunta:
A sua cara.
Resposta:
A minha cara e do mesmo jeito que eu comprei, não estragou nada, porque é só adulto, né cara?
Pergunta:
Muito bem. Qualquer dia eu vou lá para sentar no sofá.
Resposta:
Pode sentar lá.
Pergunta:
Ter essa honra de sentar no sofá do Einstein.
Lista de siglas presentes no depoimento:
SESP: Serviço Especial de Saúde Pública.
CPTM: Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul.